Interessante notícia do site terra sobre uma pesquisa que conseguiu identificar a existência de cores nas antigas estátuas gregas.
Arqueólogo: século 20 negligenciou as cores das estátuas gregas
Para Vinzenz Brinkmann, arqueólogos descobriram há séculos a policromia das figuras antigas, mas escolhemos esquecê-la por arrogância
Quando as estátuas gregas começaram a
chamar a atenção dos escultores europeus da Renascença, elas eram brancas.
Quando Michelangelo e outros artistas viram as formas e a falta de cor do
mármore dos antigos, eles emularam os mestres em suas próprias obras. Mas não
era assim que os gregos viam suas estátuas. Para eles, os deuses eram cheios de
cor - e assim eram suas representações.
Em 2003, com uma exibição no museu
Glyptothek, em Munique, o arqueólogo alemão Vinzenz Brinkmann mostrou pela
primeira vez seu trabalho ao mundo: ele descobriu como elucidar
quais cores eram usadas nas estátuas gregas. Com lâmpadas de alta
intensidade, luz ultravioleta, câmeras, gesso e jarras de materiais químicos, o
alemão passou as últimas décadas estudando o pouco que sobrou da tinta do
mármore greco-romano. E, com o mesmo material usado pelos antigos, ele recriou
as esculturas policromáticas como elas devem ter parecido há milhares de
anos.
Apesar do trabalho dos cientistas chamar
a atenção de muita gente, ele diz que sabemos há muito tempo que as estátuas
antigas eram coloridas. "Todas as estátuas gregas e romanas de mármores
que foram destruídas pela guerra (ataque persa à Acrópole de Atenas) ou erupção
vulcânica (Pompeia, Herculano) têm conservados muitos traços de cores e
ornamentos registrados pelos escavadores e ainda visíveis a
olho nu", diz ao Terra Brinkmann.
O pesquisador explica que Johann Joachim
Winckelmann - a quem chama de "pai da arqueologia" - já havia
compreendido em 1762 que as esculturas antigas de mármore eram coloridas quando
ele viu achados recém-revelados de Pompeia. Outros cientistas observaram cores
em objetos na Acrópole.
"Até mesmo o próprio (escritor Johann Wolfgang von)
Goethe tinha - apesar de relutantemente - aceitado nos seus últimos anos que
havia cor no mármore antigo. Então este fato era muito conhecido no início da
pesquisa (das estátuas greco-romanas).
No final do século 19, não havia mais dúvidas entre os estudiosos: as
esculturas de mármore gregas foram ricas em cores. O século 20 talvez tenha
negligenciado essa questão - provavelmente devido a novas estéticas de purismo.
Não havia mais pesquisa, documentação ou visualização na ciência até iniciarmos
nossa pesquisa nos anos 80", diz o pesquisador. "As cores vívidas e
ornamentos da arte antiga são obstáculos para a arrogância europeia
decorrente de uma estética e forma gregas abstratas e intelectuais."
O arqueólogo explica que não eram apenas
as estátuas que eram coloridas, mas também templos - especialmente nas áreas
superiores destes. Segundo o cientista, as cidades gregas e suas colunas eram
pintadas, especialmente os ornamentos arquitetônicos. Ele afirma que apenas das
cidades dóricas (a mais famosa talvez tenha sido Esparta) ainda não há
prova do uso de tinta.
Contudo, alguns objetos ainda mantêm
suas cores dos dias da Grécia Antiga - em especial os vasos. Por que, então, as
estátuas perderam sua tinta? "A cor era adicionada com pigmentos
orgânicos, como caseína ou ovo (técnica da têmpera). Os corantes orgânicos são
destruídos por micro-organismos", explica o cientista.
Brinkmann diz que a policromia das
estátuas era tão comum que havia uma profissão que consistia apenas em pintar o
mármore trabalhado. Além disso, as figuras esculpidas eram vestidas com roupas
reais e eram adornadas com joias autênticas e esses "adicionais" eram
trocados anualmente. "Esse ato era chamado de kosmesis", diz o
arqueólogo.
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