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terça-feira, 26 de maio de 2015

O Brasil atual na canção "Proteção", da Plebe Rude

Capa do disco O Concreto Já Rachou
Presente no primeiro álbum da banda brasiliense Plebe Rude, O Concreto Já Rachou (1985), "Proteção" fala sobre o clima vivido durante Ditadura Militar, em que os protestos contra o governo eram violentamente reprimidos, sob a alegação de que estava protegendo a população. A canção apresenta  o discurso de proteção policial por parte das autoridades, mas que contrastam com a violência desta instituição contra aqueles que buscavam lutar contra o regime autoritário.
O curioso é a atualidade desta canção: se lembrarmos os protestos de 2013 e a recente repressão aos professores no Paraná podemos notar que o discurso de proteção segue presente, embora sirva apenas contra os que contestam as autoridades. Infelizmente, a prática não mudou, ainda que já estamos sob um regime democrático.
A pergunta da música segue atual: estão nos protegendo do quê? e podemos acrescentar: estão protegendo quem?



Sobre a Plebe Rude: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plebe_R

      Letra: Proteção (Phillipe Seabra)

Será verdade,será que não
Nada do que eu posso falar
e tudo isso pra sua proteção
Nada do que eu posso falar
Repressão no Paraná

A PM na rua, a guarda nacional
Nosso medo sua arma, a coisa nao tá mal
A instituição está aí para a nossa proteção
Pra sua proteção

Tanques lá fora, exército de plantão
Apontados aqui pro interior
E tudo isso pra sua proteção
Pro governo poder se impor
A PM na rua nosso medo de viver
O consolo é que eles vão me proteger
A única pergunta é: me proteger do que?
Sou uma minoria mais pelo menos falo o que quero apesar repressão
...é para sua proteção...
...é para sua proteção...

Tropas de choque, PM's armados
Mantêm o povo no seu lugar
Mas logo é preso, ideologia marcada
Se alguém quiser se rebelar
Oposição reprimida, radicais calados

Toda angústia do povo é silenciada
Tudo pra manter a boa imagem do Estado!
Sou uma minoria mais pelo menos falo o que quero apesar da RAM!
...é para sua proteção...
...é para sua proteção...
Armas polidas e canos esquentam
esperando pra sua função

Exército brabo e o governa lamenta
que o povo aprendeu a dizer "Não"
Até quando o Brasil vai poder suportar?
Código Penal não deixa o povo rebelar

Autarquia baseada em armas - nào dá!
E tudo isso é para sua segurança.
para sua segurança.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Os escribas no Egito Antigo: Burocratas ou intelectuais?

Muito se tem estudado nos últimos anos sobre a vida cotidiana dos homens e das mulheres no Egito Antigo: camponeses, sacerdotes, faraós, escravos, entre outros personagens sociais da sociedade antiga egípcia tem sido alvos de estudos a partir dos vestígios encontrados por arqueólogos e historiadores.
Representação de um escriba
Uma das figuras mais polêmicas nestes estudos é a do escriba: É visto por alguns autores como um mero reprodutor das ordens dadas pelos poderosos faraós, um burocrata que segue ordens, tão somente. Outros veem nos escribas algo além: apesar de sua função principal ser de fiscal e de administrador dos recursos que chegam aos templos, o escriba também é um intelectual: uma vez que domina a escrita, encontram possibilidades de se afirmarem como um grupo social importante e que produz cultura para além do templo.
 Não há dúvidas quanto ao papel principal dos escribas nesta sociedade: autores como Jean Yoyotte colocam o Escriba como o funcionário principal do faraó: era ele que planejava e organizava as grandes obras, com os seus conhecimentos; coordenavam os ritos religiosos e administravam as terras públicas, conforme a citação a seguir de um escriba sobre este tipo de trabalho:

“Estou a executar, com extremo zelo e uma dureza de ferro, todas as tarefas que o meu senhor me confiou (...) A casa do meu senhor está bem, os seus servos estão bem, o gado e os bois estão bem; comem ferragem todos os dias e os pastores trazem erva para os alimentar.” (trecho retirado de ROCCATTI).

Esse relato demonstra que, de fato, o escriba tem responsabilidades com o Rei: é ele que está cuidando da terra e dos afazeres do campo.
Comparação entre a escrita hieroglífica egípcia e o alfabeto.
Entretanto, o escriba também tinham outras funções: faziam manuais de arquitetura, engenharia, entre outros, pois dominavam estes assuntos. Além disso, controlavam as “casas da vida”, que eram oficinas de livros existentes dentro dos templos, onde reproduziam obras religiosas importantes para o uso nos rituais como o Livro dos Mortos. E produziram literatura, como a Sátira dos ofícios: Nesta obra, o escriba Dua-Kheti dá instruções ao seu filho sobre qual profissão seguir:

“(…) Por outro lado, não há nenhum ofício melhor do que aquele do escriba: ninguém pode dar-lhe ordens porque ele é quem manda. Não há escriba pobre (…); portanto, agradece a teus pais que te encaminharam para os livros.”

Nota-se nesta obra que a orientação é que se siga a vida de escriba, com todas as suas vantagens. Em outros trechos, o autor desdenha de outras profissões, demonstrando “superioridade” da profissão de escriba. Nota-se, também, que o escriba não se coloca como um subalterno, afinal, ele dá “ordens”...

BIBLIOGRAFIA:
CARDOSO, Ciro. O Egito Antigo. Ed. Brasiliense, 1982
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. Atual Editora: São Paulo, 1994.
ROCCATTI, Alessandro. O Escriba. IN: DONADONI, Sérgio (org.) . O Homem egípcio. Editorial Presença: Lisboa, 1994.
YOYOTTE, Jean. O Egito faraônico: sociedade, economia e cultura. IN: MOHKTAR, Gamal (Ed.). História Geral da África, Vol. II: A África Antiga. Brasília: UNESCO, 2010, 2º Ed.
OBS: A citação da Sátira dos Ofícios encontra-se em: José Miguel Serrano Delgado, Textos para la historia antigua de Egipto, Ed. Cátedra,1993.