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terça-feira, 5 de maio de 2015

Os escribas no Egito Antigo: Burocratas ou intelectuais?

Muito se tem estudado nos últimos anos sobre a vida cotidiana dos homens e das mulheres no Egito Antigo: camponeses, sacerdotes, faraós, escravos, entre outros personagens sociais da sociedade antiga egípcia tem sido alvos de estudos a partir dos vestígios encontrados por arqueólogos e historiadores.
Representação de um escriba
Uma das figuras mais polêmicas nestes estudos é a do escriba: É visto por alguns autores como um mero reprodutor das ordens dadas pelos poderosos faraós, um burocrata que segue ordens, tão somente. Outros veem nos escribas algo além: apesar de sua função principal ser de fiscal e de administrador dos recursos que chegam aos templos, o escriba também é um intelectual: uma vez que domina a escrita, encontram possibilidades de se afirmarem como um grupo social importante e que produz cultura para além do templo.
 Não há dúvidas quanto ao papel principal dos escribas nesta sociedade: autores como Jean Yoyotte colocam o Escriba como o funcionário principal do faraó: era ele que planejava e organizava as grandes obras, com os seus conhecimentos; coordenavam os ritos religiosos e administravam as terras públicas, conforme a citação a seguir de um escriba sobre este tipo de trabalho:

“Estou a executar, com extremo zelo e uma dureza de ferro, todas as tarefas que o meu senhor me confiou (...) A casa do meu senhor está bem, os seus servos estão bem, o gado e os bois estão bem; comem ferragem todos os dias e os pastores trazem erva para os alimentar.” (trecho retirado de ROCCATTI).

Esse relato demonstra que, de fato, o escriba tem responsabilidades com o Rei: é ele que está cuidando da terra e dos afazeres do campo.
Comparação entre a escrita hieroglífica egípcia e o alfabeto.
Entretanto, o escriba também tinham outras funções: faziam manuais de arquitetura, engenharia, entre outros, pois dominavam estes assuntos. Além disso, controlavam as “casas da vida”, que eram oficinas de livros existentes dentro dos templos, onde reproduziam obras religiosas importantes para o uso nos rituais como o Livro dos Mortos. E produziram literatura, como a Sátira dos ofícios: Nesta obra, o escriba Dua-Kheti dá instruções ao seu filho sobre qual profissão seguir:

“(…) Por outro lado, não há nenhum ofício melhor do que aquele do escriba: ninguém pode dar-lhe ordens porque ele é quem manda. Não há escriba pobre (…); portanto, agradece a teus pais que te encaminharam para os livros.”

Nota-se nesta obra que a orientação é que se siga a vida de escriba, com todas as suas vantagens. Em outros trechos, o autor desdenha de outras profissões, demonstrando “superioridade” da profissão de escriba. Nota-se, também, que o escriba não se coloca como um subalterno, afinal, ele dá “ordens”...

BIBLIOGRAFIA:
CARDOSO, Ciro. O Egito Antigo. Ed. Brasiliense, 1982
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. Atual Editora: São Paulo, 1994.
ROCCATTI, Alessandro. O Escriba. IN: DONADONI, Sérgio (org.) . O Homem egípcio. Editorial Presença: Lisboa, 1994.
YOYOTTE, Jean. O Egito faraônico: sociedade, economia e cultura. IN: MOHKTAR, Gamal (Ed.). História Geral da África, Vol. II: A África Antiga. Brasília: UNESCO, 2010, 2º Ed.
OBS: A citação da Sátira dos Ofícios encontra-se em: José Miguel Serrano Delgado, Textos para la historia antigua de Egipto, Ed. Cátedra,1993.

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