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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A última cartada de Getúlio Vargas

Prezados/as

Abaixo o texto que temos trabalhado nas turmas 81 e 82, com relação ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e suas consequências políticas e sociais no Brasil durante o que a os historiadores hoje chamam de Experiência Democrática.

O texto é uma adaptação da historiadora Ângela Castro Gomes, citado na bibliografia, com alguns pitacos meus!

A ÚLTIMA CARTADA DE VARGAS: O SUICÍDIO COMO MANUTENÇÃO DA DEMOCRACIA

O Suicídio de Vargas, ocorrido em 24 de agosto de 1954, foi um acontecimento trágico e único na História do Brasil. Sem o tiro dado contra o próprio coração, a conspiração civil-militar que estava sendo armada contra ele dificilmente seria evitada.
Comoção com a morte de Vargas
Durante o segundo governo Vargas (1950-1954), o presidente vinha sofrendo constantes ataques de seus opositores. não só de adversários políticos, como os udenistas, mas também de setores militares e da imprensa. Tudo só piorou quando assessores seus tentaram calar o principal nome opositor, o deputado federal e jornalista Carlos Lacerda (UDN-DF). O atentado na Rua Toneleros (Rio de Janeiro) feriu Lacerda e deixou como mártir da oposição o Major Rubens Vaz, segurança do “Corvo”, que morrera com um tiro. A partir de então, a pressão da oposição sobre Vargas crescera ao ponto de exigirem a renúncia do presidente.
Foram nessas circunstâncias que Vargas se matou num derradeiro golpe político que visava reverter uma situação que vinha beneficiando os antigetulistas. Sua morte transformou o equilíbrio de forças políticas da época, bloqueando o golpe que se armava e possibilitando a manutenção da legalidade democrática, com eleições garantidas em 1955, em que se sagrou vencedor Juscelino Kubitschek (PSD-MG).
Getúlio e seu chimarrão
Eleito democraticamente em 1950, Vargas já havia governado o Brasil por 15 anos, sendo os últimos oito anos (1937-1945) de forma ditatorial. Os opositores surpreenderam-se com a vitória de Getúlio, e alegaram que o “povo não sabia votar”. Todavia, a população tinha ainda em mente que Vargas fora o governante que atendeu muitas reivindicações durante o seu governo anterior tais como direitos trabalhistas e que soube construir, principalmente no Estado Novo, a imagem do homem preocupado com a felicidade e o sucesso do seu povo. O mesmo povo que, em agosto de 1954 saiu às ruas  gritando, provocando incêndios e quebra-quebras para demonstrar seu apreço ao presidente morto e assustar os antigetulistas. Estes se recolheram por um bom tempo diante do “golpe de mestre” do velho Getúlio.
Não era só suicídio que marcava as pessoas, mas a história construída por Vargas junto à população, em que o mesmo colocava-se sempre como sendo também parte do povo, buscando sempre estabelecer uma relação de proximidade com os populares, de confiança e respeito. Baixinho, meio barrigudo, sorrindo ou não, fumando charutos ou tomando chimarrão, ele era o Gegê, presente em marchinhas de carnaval e em outras manifestações populares.
Carlos Lacerda
Quando a UDN e os “entreguistas” militares o atacavam, a população também se sentia atacada. As ameaças a Vargas eram entendidas como ameaças a todas as conquistas sociais que o povo experimentava naquele momento. Não é por acaso que a população brasileira culpou os antigetulistas pelo ato desesperado do presidente: Se era Getúlio que havia garantido os direitos sociais, aqueles que o prejudicavam queriam também retirar tais direitos do povo.
Manifestação de trabalhadores pró-Vargas
De forma alguma isso significa dizer que Vargas era um “santo”: todos já vimos que ao mesmo tempo em que garantiu inúmeros direitos aos mais pobres, Getúlio também governou o Brasil entre 1937 e 1945 com mão de ferro, não aceitando oposição e agindo de forma violenta - com práticas como tortura contra quem o contestava - mas que, ao mesmo tempo, soube conquistar o apoio e o respeito da população trabalhadora, carente de líderes que atendessem suas demandas. 
Capa da Última Hora
O que mostramos é que Getúlio não é nem o “bem”, nem o “mal”, mas  uma figura complexa, um mito político que com suas contradições e ambiguidades, conseguiu manter-se na História do Brasil como uma personalidade decisiva e importante. Um homem que lia o seu tempo e agiu conforme o contexto o exigia: Um ditador e, contraditoriamente, alguém, que em outro contexto, garantiu, com sua morte, a manutenção da democracia.


BIBLIOGRAFIA:

FERREIRA, Jorge. “Crises da república: 1954, 1955, 1961”. IN: FERREIRA, J; DELGADO, L. O Brasil republicano: o tempo da experiência democrática. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, p. 301-342

GOMES, Ângela C. “A última cartada” IN: Revista Nossa História, nº 10, ago. 2004, Biblioteca Nacional, p. 14-19.

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