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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Os últimos dias da Ditadura (1984-1985): diretas já!, eleição indireta e o presidente que não foi...

Prezados/as,

A Ditadura Militar já vinha dando sinais de cansaço e desgaste nos fins dos anos 70. A crise do petróleo enfraqueceu a economia brasileira, entrando, a partir de 1978, numa crise profunda, só solucionada nos anos 90. As pressões da sociedade sobre os governos militares também forçavam o regime a abrir, bater em retirada aos poucos para retornar aos quartéis. No entanto, todo esse movimento de abertura era controlado pelos militares, evitando que o poder civil fosse retomado por lideranças de oposição mais forte e mais à esquerda.
Centro de Porto Alegre tomada pelo povo em manifestação
das Diretas, em 1984.
De qualquer forma, havia as pressões vinda das oposições moderadas - destacando-se a igreja, as entidades civis como a Ordem dos Advogados do Brasil e o MDB, partido de oposição ao regime; do novo sindicalismo, disposto a lutar pelos melhores salários a partir da greve e sem estar preso ao Estado e o retorno dos exilados da ditadura como Leonel Brizola, feroz adversário da Ditadura instaurada em 1964.
Uma das medidas adotadas pelo governo para abrir o regime foi o fim do bipartidarismo e o retorno do pluripartidarismo - ou seja, não era obrigado a ter apenas dois partidos - a medida acabou dividindo as oposições, pois o MDB se transformou em três partidos: PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), PT (Partido dos Trabalhadores), PDT (Partido Democrático Trabalhista). Enquanto a ARENA - partido do regime, apenas trocou de nome: PDS (Partido Democrático Social). Também foram retomadas as eleições para governadores e prefeitos de capitais, impedidas desde 1966.
Todavia, ainda não poderia ter eleições diretas para presidente. Dai a população, com a liderança de diversos partidos e entidades sociais, terem ido as ruas do país em 1984 para protestar pelas "Diretas-Já!" Ou seja, defender a volta da eleição pelo voto popular para presidente. As manifestações ocorreram por todo o país e pressionavam o Congresso Nacional a votar a favor da Emenda do deputado Dante de Oliveira (PMDB-Mato Grosso) que marcava eleições para 1985. Apesar do povo nas ruas, a emenda foi rejeitada.
Lideranças políticas brasileiras em manifestação pelas Diretas
O que não significava que não teria eleições: estava marcada para 15 de janeiro de 1985 as eleições indiretas - ou seja, feita apenas entre os deputados e senadores do Congresso - que definiria o primeiro presidente civil do país depois de 21 anos. Foram lançados Tancredo Neves (PMDB-Minas Gerais) e Paulo Maluf (PDS - São Paulo). É interessante que o próprio regime apoiou a candidatura de Tancredo, um homem moderado e que havia se comprometido e fazer uma transição para o regime democrático de forma gradual. Abandonaram, dessa forma, o candidato do partido regime, o ex-governador de São Paulo Maluf.
Portanto, com um grande apoio no Congresso, Tancredo venceu as eleições e seria o novo presidente do Brasil. No entanto, não foi. Acometido por um tumor, Tancredo acabou sendo internado em um hospital um dia antes da sua posse e veio a falecer em 21 de abril de 1985.
Capa da revista Manchete destaca a vitória
de Tancredo, abraçado ao seu vice, Sarney.
Quem assumiu era Jose Sarney, ex-governador do Maranhão, homem do regime militar, mas que havia trocado de lado para apoiar Tancredo. Seu governo foi controverso, em uma época complicada para o país, mas aí é tema para outro post...

BIBLIOGRAFIA:

Gomes, Rodrigo. 1989: a maior eleição da história. Porto Alegre, ed. Lorigraf, 2014.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O golpe de 64: videoreportagem

Prezados/as,

Aqui está o vídeo sobre o golpe de 64 que assistimos nas turmas 83 e 84. Destaco nesse vídeo as pressões internas - crise política e econômica durante o governo Goulart e a oposição militar e CIVIL que procuravam desestabilizar o presidente - e externas - o papel norte-americano no golpe ocorrido no Brasil.
Imagem do comício da Central do Brasil, no
Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964.
 Também prestem atenção nos depoimentos dos três ex-membros do governo Goulart em que falam sobre os acontecimentos entre o dia 31 de março e o 1° de abril de 1964. Esse vídeo é muito bom para entendermos os fatores que levaram a queda da democracia brasileira naquele período e a inauguração de um período repressivo que durou 21 anos.



Capa do Jornal O Globo, defendendo o golpe,
vista como uma 'intervenção militar democrática".
A própria imprensa teve de rever tal posição com
o aprofundamento da repressão da ditadura.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Por uma história do XIS (o lanche)

Para lembrar que pode-se fazer história de tudo e também para descontrair um  pouco, reproduzo aqui trecho do texto de um professor acadêmico- Luis Farinatti - em que ele faz um "estudo" sobre o famoso XIS. Uma espécie de símbolo do Rio Grande do Sul!

Link original: http://terradosmuitos.sul21.com.br/2012/08/06/200/

HISTÓRIA SOCIAL DO XIS

O interessante é que o xis parece ter se enquadrado, nos primeiros tempos, no ar de novidade que tinham os fast-foods. Sem dúvida, foi associado ao Hamburguer norte-americano, aqui chegado através das telas de cinema. Daí a relação com velocidade, tecnologia, praticidade e juventude. Enfim, com os valores de uma contemporaneidade que, nos ’80, tinha o futuro como uma categoria-fetiche – lembram da estética repleta de ângulos, referências espaciais, neons? Isso desde os objetos de decoração, passando pela arquitetura, até a moda com ombreiras e cabelos esculturados com gel.

Não é a toa que a Coca-cola era o acompanhante inescapável para xis. Tratava-se de uma das práticas de norte-americanização pelo consumo, que a juventude de classe média brasileira exercitou com dedicação naquela década. Havia uma música, do Gaúcho da Fronteira, em que ele criticava essa adesão, referindo-se a uma menina dizendo algo como “só toma coca com xis e repete que é feliz, mas vive muito confusa… tem direito de sonhar com essa vida made in USA. (…) Ô guria te endireita, tu já tá uma moça feita para bancar americana. Por causa do tal de rock, tu vives em Nova York sem sair de Uruguaiana.”
Porém, me parece que esse quadro foi se modificando nos anos posteriores. O xis difundiu-se verdadeiramente. Sua adaptação à gaúcha, ou seja, o sanduíche prensado até ficar com a casca do pão crocante virou marca distintiva e de orgulho regional. Santa Maria (universitária e jovem), vem sendo identificada como terra do xis, em um programa que foi, inclusive, encampado pela prefeitura municipal. Essa apropriação regionalista de algo que, antes, era tão “norte-americano” se deu em concomitância com a invasão dos verdadeiros fast-foods, os MacDonalds e seus genéricos. Algumas pessoas chegaram a dizer que não dariam certo por aqui, sendo que custavam o dobro do valor do “nosso” xis, mas com a metade do “peso”. O resultado é o que se vê, o MacDonalds está aí mas o xis segue vivo, encampando, ora vejam só, um discurso de resistência e matriz de construções identitárias. O xis aparece como uma refeição completa, daquelas que “pesam” no estômago, por um preço muito acessível. Para além do “lanche dos jovens de classe média” hoje o xis é consumido por várias camadas sociais. E talvez possa ser associado a uma longa tradição brasileira, uma “economia moral da comida”, entre as camadas populares, de que a melhor refeição tem que “encher a barriga” sem pesar no bolso. Enfim, são transformações dignas de atenção e curiosidade.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Os partidos políticos na história brasileira (1945-1964)

Os partidos políticos causam controvérsia. São vistos por muitos como simples agremiações em busca de poder, como mecanismo de se chegar ao poder sem levar em conta a população. Esta é uma visão muito difundida em função da descrença existente na política atualmente.
Mas os partidos tem, sim, fundamental importância: são eles que levam para arena política as demandas e os anseios da população, são mediadores entre a população e o poder. Evidentemente cada partido representa diferentes segmentos da sociedade, daí as diferenças entre partidos de esquerda - mais progressista e social - e direita - mais conservadora - e suas nuances: radical, moderado, centro, etc. E cada partido, internamente, tem dentro de si diversos "micropartidos" em disputa por poder ideológico - luta de ideias que vão definir um programa partidário - ou pessoal, simples disputa de poder pelo poder.
Enfim, sintetizo aqui as agremiações partidárias brasileiras após 1945, quando surgem os partidos de nível nacional:

EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA (1945-1964)

Após o fim da ditadura getulista do Estado Novo, em que os partidos foram proibidos de existir, a democratização de 45 abriu espaço para o surgimento de diversas forças partidárias, muitas ainda sob influência de Vargas.

Reunião do PTB com Vargas
1 - Partido Trabalhista Brasileiro (PTB): Partido fundado por Getúlio Vargas e que trouxe a cena política aqueles que haviam se beneficiado da legislação trabalhista de Vargas: os trabalhadores urbanos. Foi anticomunista até a morte de Getúlio. A partir de 1954, aliou-se a grupos mais à esquerda da sociedade. Esteve na presidência da república com Getúlio Vargas (1950-1954) e João Goulart (1961-1964). Outra liderança importante foi o ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola.

2- Partido Social Democrático (PSD): Também getulista, mas tinha entre seus membros a elite industrial e agrária que apoiava Vargas, além dos interventores estaduais do período estadonovista. Dai a força que o partido tinha; era o maior do país naquele período. Teve dois presidentes: Eurico  Gaspar Dutra (1945-1950) e Juscelino Kubitchek (1955-1960). Outra liderança foi o político mineiro Tancredo Neves.

Símbolo da UDN
3- União Democrática Nacional (UDN): Partido liberal economicamente falando e conservador em termos políticos. Agregava a elite antigetulista, minada do poder pelo ex-presidente, e também lideranças econômicas e empresariais que viam a política nacionalista do PTB como problema para a entrada do capital estrangeiro no país. Nunca conseguiu chegar a presidência, embora tenha apoiado Jânio Quadros (1960-1961) e tinha como lideranças o governador de Guanabara Carlos Lacerda e o ex-governador de Minas Gerais Magalhães Pinto.

4- Partido Comunista Brasileiro (PCB): Partido fundado em 1922, de origem operária, mas que nesse período, com a liderança do ex-tenentista Luis Carlos Prestes, aderiu a tese do nacionalismo e do antiimperialismo. Foi posto na ilegalidade em 1947 devido ao forte clima anticomunista vivido no país em meio a Guerra Fria.

5- Partido Social Progressista (PSP): Partido de caráter mais regional, sendo forte em São Paulo, em que tinha como liderança Ademar de Barros, ex-governador paulista. Teve Café Filho - vice de Getúlio - como presidente entre 1954 e 1955, após o suicídio do ex-presidente.

6- Partido Democrata Cristão (PDC) : Partido de origem católica, embora navegasse entre a igreja mais conservadora e as lideranças cristãs mais progressistas. Teve como líderes o ex-governador do Paraná Nei Braga e o ex-deputado paulista Franco Montoro.

7- Partido Libertador (PL): Forte apenas no Rio Grande do Sul, onde representava ideologicamente algo próximo as UDN. Lideranças agrárias e profissionais liberais aparecem nesse partido, destacando-se Raul Pilla e Paulo Brossard.

8- Partido da Representação Popular (PRP): agremiação dos ex-integralistas do período Vargas, com forte tendência conservadora e anticomunista. liderado por Plínio Salgado.

9- Movimento Trabalhista Renovador (MTR): Fundado pelo ex-PTB Fernando Ferrari. Muito se discute sobre os motivos da saída de Ferrari do PTB para fundar o MTR: seria por diferenças ideológicas ou porque não conseguia ter poder dentro do PTB e criou o seu próprio partido?

10 - Partido Socialista Brasileiro (PSB): Agremiação de lideranças de esquerda não-comunistas que tinha dentro da UDN. No entanto, sairam e formaram o próprio partido. Destacam-se como líderes Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco e avô de Eduardo Campos, e João Mangabeira.

Outros partidos do período: Partido Republicano (PR), Partido Trabalhista Nacional (PTN), Partido Social Trabalhista (PST), Partido Rural Trabalhista (PRT).


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Documento histórico: Carta-Testamento de Getúlio Vargas

Não se faz história sem documentos. A história que estudamos só é possível ser construída pela existência de evidências. Qualquer evidência. Uma carta, uma foto, uma pintura, um jornal, um e-mail, um filme, uma garrafa... tudo pode servir para estudar e analisar história. Mas não basta ler o documento e acreditar no que ele diz. É preciso questioná-lo, é preciso colocá-lo dentro do contexto em que foi produzido para poder entendê-lo e assim produzir versões da história. Um documento pode produzir várias interpretações e todas elas, desde que feitas com método e crítica, podem ser verdadeiras, embora divergentes.
Rascunho da carta feita por
Getúlio Vargas.
A partir dessa introdução, posto hoje um documento para que seja lido e pensado: a Carta-Testamento de Getúlio Vargas. Nela, é possível notar os debates que estavam ocorrendo e que são apontados pelo autor como motivos para a crise que seu governo passava. Há de pensar também a linguagem utilizada: a valorização do trabalhador na escrita denota o papel que estes tinham para Vargas e a capacidade que o presidente tinha em conseguir o apoio popular, o que pode ser notado com a comoção pública com a sua morte e pela forma que Vargas era tratado pela população trabalhadora, tendo até músicas de carnaval em sua homenagem.
Enfim, boa leitura!



Carta-Testamento

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

Getúlio Vargas













terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dicas de filmes: Idade Média

Os cavaleiros de Cristo, obra de
1432.
Alguns filmes são bem interessantes para entender um período histórico. Lógico, tem que se ter o cuidado de lembrar que um filme NÃO É O QUE REALMENTE ACONTECEU! Mas colocam diversas possibilidades para se pensar o período retratado e também o nosso presente.
Sobre a Idade Média, vou indicar hoje dois filmes clássicos:

1 - O Nome da Rosa (Der name der rose, ALE/ITA/FRA, 1986, Jean-Jacques Annaud)

Cena de "O Nome da Rosa"
 Talvez o filme que tenha chegado mais perto da Idade Média. Uma série de questões como o papel da Igreja no período, o cotidiano camponês, as formas de pensar ligadas a cultura religiosa, a inquisição, enfim, vários elementos do medievo apresentam-se neste clássico estrelado pelo ex-James Bond Sean Connery.

Filme completo legendado



2- Os visitantes: eles não nasceram ontem (Les visiteurs, França, 1993, Jean-Marie Poiré)

ótimo filme para ver as diferenças nas formas de pensar e viver entre homens medievais e os homens modernos. A ideia da vinda de pessoas do ano de 1123 para 1993 ajuda a mostrar o estranhamento entre duas culturas diferentes em termos de tempo. O cavaleiro Godofredo e o seue scudeiro camponês encontram um mundo totalmente diverso, em que os descendentes dos camponeses tem tanto poder quanto um nobre: algo inaceitável para os cavaleiros medievais!
Cena em que os medievais encontram um carro

trailer do filme: infelizmente não tem no Youtube... Mas quem tiver o Netflix, o filme está disponível!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Guerra Civil Espanhola e o Guernica

Pablo Picasso
O ataque a cidade basca de Guernica em 26 de abril de 1937 foi o episódio mais dramático da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) (sobre a guerra, clique aqui). O ataque é conhecido como o "laboratório da Segunda Guerra", pelo fato de os nazistas, em apoio aos franquistas na guerra, terem experimentado muitas armas que seriam usadas na Guerra que viria a partir de 1939. O bombardeio destruiu a cidade que tinha na época em torno de 7 mil habitantes e atacou não apenas lideranças pró-Frente Popular, mas também a população civil.
Em homenagem as vítimas do ataque e refletindo suas posições políticas progressistas, o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) realizou uma das suas obras mais célebres: Guernica (1937).
Abaixo, vocês podem ver uma demonstração em 3D do quadro:



Segundo o blog Abstração coletiva (link original aqui), esta seria uma possível simbologia dos elementos presentes na pintura:

O cavalo: para Picasso, o cavalo em “Guernica” representa o povo inocente. A distorção na cabeça do cavalo revela pânico e a dor do animal mortalmente ferido. Suas narinas e dentes superiores parecem formar a imagem de uma caveira. O ferimento do cavalo, um talho negro em seu flanco, ocupa um lugar de destaque na pintura. Pelo corpo do cavalo, distribui-se pequenos tracejados negros, que remetem as folhas de um jornal, através do qual Picasso leu sobre o massacre de Guernica.
O touro: o touro é um símbolo da cultura espanhola, e sua imagem está associada à força. Mas o touro de “Guernica” não parece particularmente agressivo. Também ele experimenta o terror da carnificina.
As luzesPicasso pinta uma luz elétrica na cena, que lembra um olho maligno ou a lâmpada da cela de um torturador. Próxima a ela, está um candelabro, de formas mais suaves. A oposição entre os dois símbolos representa a dicotomia entre o bem e o mal, a morte e a vida.
As figuras humanas: impotentes e distorcidos pela dor, com seus corpos dilacerados, não demonstram a nobreza da batalha, apenas o pânico da tragédia. Da esquerda para a direita, vemos uma mãe com o filho morto nos braços (uma moderna pietá), um soldado caído que traz na mão esquerda um estigma de Cristo (uma provável referência a obra Os Fuzilamentos de Três de Maio, de Goya), uma mulher esgotada e desorientada, uma figura feminina trazendo um candelabro, completamente incrédula ante a tragédia, e uma pessoa em chamas, que ergue os braços para o vazio.
A margarida: vemos uma margarida na mão direita de um soldado caído, delicadamente desenhada, um pequeno símbolo de esperança. nesta mesma mão, o braço decepado segura com firmeza uma espada quebrada, que representa a resistência do povo espanhol.
As coresPicasso utiliza-se das cores preto, branco e cinza, tornando a obra bastante sombria. O uso destas cores na obra “Guernica” também podem remeter as matizes de um jornal.
Guernica, quadro de Pablo Picasso (1936)



sexta-feira, 25 de julho de 2014

Tentando entender o conflito Israel-Palestina

Nos últimos dias temos visto inúmeras notícias na TV, internet e jornais sobre o conflito entre o Estado de Israel e a Palestina, no Oriente Médio. Para tentar entender o porquê desse conflito, é preciso reconstruir historicamente o que ocorreu naquela região.
Os judeus, no final do século XIX, viviam espalhados por vários países da Europa. Em função de serem mal-vistos por parte dos europeus, procuraram construir uma identidade entre si, a partir de uma história em comum - de que viviam no atual território de Israel até serem expulsos de lá, na "diáspora" ocorrida no início da era cristã. Esse movimento judaico, chamado de Sionismo, passou a defender a volta dos judeus a aquela terra. O problema é que já havia um povo vivendo por lá: os palestinos.
Comparativo da ocupação israelense na Palestina:
 em verde os territórios palestinos, em branco, os israelenses.
Nota-se o aumento branco ao longo do tempo.
Entre 1890 e 1945, muitos judeus foram ocupando, ilegalmente, terras que eram dos palestinos e com o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) - diante da comoção causada pelo Holocausto nazista, que vitimou milhões de judeus, as nações ocidentais acabaram ajudando a criar o Estado de Israel em partes daquele território que era até então palestino. A ideia inicial era formar também um Estado da Palestina, no entanto, os diversos interesses em jogo de Israel e seus aliados (Estados Unidos, França, entre outros) impediu o surgimento da Palestina e o pior, acabou auxiliando os israelenses a ocuparem mais território daquele povo, expulsando as populações de suas terras, sendo obrigadas a se refugiarem em outros países.
Charge ironizando a desproporção entre as
forças palestinas e israelenses.
Desde então, já ocorreram diversos conflitos entre israelenses - que, cada vez mais, aumentou seu território fazendo uso da enorme desproporção entre sua força militar fortemente armada e organizada e as forças da Autoridade Palestina. Não é a toa que surgiram movimentos como o Hamas, que, diferentemente do que a grande mídia divulga, é uma entidade radical islâmica, mas que ajuda com assistência social e distribuição de recursos muitos palestinos e refugiados e, logicamente, faz uso de suas armas para enfrentar o poderio militar israelense.
A partir daí, notamos porque é tão desproporcional o numero de vitimas de um lado e do outro e entendemos que o que está em jogo é manter seu poder as custas de uma outra população. Ironicamente, Israel faz uso da mesma arma que foi vítima: a violência.
OBS: Não confundir Estado de Israel com todos os israelenses: existem muitos judeus que são CONTRA a política atual adotada pelo Estado de Israel!
Nem todos os judeus concordam com
o ataque de Israel.

OBS2 Mesmo alguns aliados israelenses tem considerado que o ideal para a paz é aceitar a existência de um Estado Palestino. Esperemos que seja possível!





BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CAMARGO, Cláudio. Guerras árabes-israelenses. IN: Mangnoli, Demétrio org.). História da Guerra. Ed. Contexto, 2006.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

As estátuas gregas tinham cores

Interessante notícia do site terra sobre uma pesquisa que conseguiu identificar a existência de cores nas antigas estátuas gregas.


Arqueólogo: século 20 negligenciou as cores das estátuas gregas

Para Vinzenz Brinkmann, arqueólogos descobriram há séculos a policromia das figuras antigas, mas escolhemos esquecê-la por arrogância


Quando as estátuas gregas começaram a chamar a atenção dos escultores europeus da Renascença, elas eram brancas. Quando Michelangelo e outros artistas viram as formas e a falta de cor do mármore dos antigos, eles emularam os mestres em suas próprias obras. Mas não era assim que os gregos viam suas estátuas. Para eles, os deuses eram cheios de cor - e assim eram suas representações.
Em 2003, com uma exibição no museu Glyptothek, em Munique, o arqueólogo alemão Vinzenz Brinkmann mostrou pela primeira vez seu trabalho ao mundo: ele descobriu como elucidar quais cores eram usadas nas estátuas gregas. Com lâmpadas de alta intensidade, luz ultravioleta, câmeras, gesso e jarras de materiais químicos, o alemão passou as últimas décadas estudando o pouco que sobrou da tinta do mármore greco-romano. E, com o mesmo material usado pelos antigos, ele recriou as esculturas policromáticas como elas devem ter parecido há milhares de anos. 

Apesar do trabalho dos cientistas chamar a atenção de muita gente, ele diz que sabemos há muito tempo que as estátuas antigas eram coloridas. "Todas as estátuas gregas e romanas de mármores que foram destruídas pela guerra (ataque persa à Acrópole de Atenas) ou erupção vulcânica (Pompeia, Herculano) têm conservados muitos traços de cores e ornamentos registrados pelos escavadores e ainda visíveis a olho nu", diz ao Terra Brinkmann.
O pesquisador explica que Johann Joachim Winckelmann - a quem chama de "pai da arqueologia" - já havia compreendido em 1762 que as esculturas antigas de mármore eram coloridas quando ele viu achados recém-revelados de Pompeia. Outros cientistas observaram cores em objetos na Acrópole.
"Até mesmo o próprio (escritor Johann Wolfgang von) Goethe tinha - apesar de relutantemente - aceitado nos seus últimos anos que havia cor no mármore antigo. Então este fato era muito conhecido no início da pesquisa (das estátuas greco-romanas). No final do século 19, não havia mais dúvidas entre os estudiosos: as esculturas de mármore gregas foram ricas em cores. O século 20 talvez tenha negligenciado essa questão - provavelmente devido a novas estéticas de purismo. Não havia mais pesquisa, documentação ou visualização na ciência até iniciarmos nossa pesquisa nos anos 80", diz o pesquisador. "As cores vívidas e ornamentos da arte antiga são obstáculos para a arrogância europeia decorrente de uma estética e forma gregas abstratas e intelectuais."
O arqueólogo explica que não eram apenas as estátuas que eram coloridas, mas também templos - especialmente nas áreas superiores destes. Segundo o cientista, as cidades gregas e suas colunas eram pintadas, especialmente os ornamentos arquitetônicos. Ele afirma que apenas das cidades dóricas (a mais famosa talvez tenha sido Esparta) ainda não há prova do uso de tinta.

Contudo, alguns objetos ainda mantêm suas cores dos dias da Grécia Antiga - em especial os vasos. Por que, então, as estátuas perderam sua tinta? "A cor era adicionada com pigmentos orgânicos, como caseína ou ovo (técnica da têmpera). Os corantes orgânicos são destruídos por micro-organismos", explica o cientista.
Brinkmann diz que a policromia das estátuas era tão comum que havia uma profissão que consistia apenas em pintar o mármore trabalhado. Além disso, as figuras esculpidas eram vestidas com roupas reais e eram adornadas com joias autênticas e esses "adicionais" eram trocados anualmente. "Esse ato era chamado de kosmesis", diz o arqueólogo.

domingo, 6 de julho de 2014

Dica de filmes: Fascismo e Segunda Guerra

Prezados, coloco abaixo alguns filmes sobre o fascismo e a Segunda Guerra:

1) O Grande Ditador (1940, EUA, Charlie Chaplin) - filme completo
Famosa sátira ao nazi-fascismo e seus líderes feita pelo gênio Chaplin.



2) A Queda (2004, Alemanha, Oliver Hirschbiegel) - trailer
Polêmico filme alemão que retrata os últimos dias do ditador nazista Adolf Hitler.



3) A Outra História Americana (1999, EUA, Tony Kaye) - trailer
Filme que mostra as ações de um neonazista, sua prisão e sua tentativa de tomar um novo caminho junto com a família.



4) A Vida É Bela (1999, Itália, Roberto Benigni) - trecho do filme
O ator e cineasta italiano Roberto Benigni constrói uma bela história de um homem preso junto com o filho em um campo de concentração e que luta para demonstrar para a criança que estavam vivendo em um jogo, para protegê-la de saber o que de fato estava ocorrendo.



Roberto Benigni

sexta-feira, 27 de junho de 2014

10 mitos sobre a Ditadura Civil-Militar brasileira (1964-1985)

É comum ainda ouvirmos pessoas mais velhas falarem que a ditadura no Brasil não foi tão violenta assim, que bastava não mexer com os militares que eles não faziam, de que a repressão só começou em 1968, que se evitou um "golpe comunista" etc. Uma série de mitos construídos para justificar o injustificável: a derrubada de um regime democrático que tinha seus problemas, mas que certamente não era com autoritarismo e repressão que se resolveriam.
Essa reportagem do site da Superinteressante ajuda a quebrar alguns desses mitos e a entender que as ditaduras nunca são alternativas boas para se resolver os problemas de um país.

Gregório Bezerra, ex-deputado comunista, foi arrastado pelas
de Recife no primeiro dia após o golpe por militares: o que
que a Repressão começou junto com o golpe.


Link original: http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/10-mitos-sobre-a-ditadura-no-brasil/

10 mitos sobre a ditadura no Brasil (ou Por que você não deve querer que ela volte)

Rôney Rodrigues  2 de abril de 2014

 Em 1964, um golpe de estado que derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura no Brasil. O regime autoritário militar durou até 1985. Censura, exílio, repressão policial, tortura, mortes e “desaparecimentos” eram expedientes comuns nesses “anos de chumbo”. Porém, apesar de toda documentação e testemunhos que provam os crimes cometidos durante o Estado de exceção, tem gente que acha que naquela época “o Brasil era melhor”. Mas pesquisas da época – algumas divulgados só agora, graças à Comissão Nacional da Verdade – revelam que o período não trouxe tantas vantagens para o país.
Nas últimas semanas, recebemos muitos comentários saudosistas em relação à ditadura na página da SUPER no Facebook. Em uma época em que não é incomum ver gente clamando pela volta do regime e a por uma nova intervenção militar no país, decidimos falar dos mitos sobre a ditadura em que muita gente acredita.

1. “A ditadura no Brasil foi branda”

Pois bem, vamos lá. Há quem diga que a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes latino-americanos. Países como Argentina e Chile, por exemplo, teriam sofrido muito mais em “mãos militares”. De fato, a ditadura nesses países também foi sanguinária. Mas repare bem: também foi. Afinal, direitos fundamentais do ser humano eram constantemente violados por aqui: torturas e assassinatos de presos políticos – e até mesmo de crianças – eram comuns nos “porões do regime”. Esses crimes contra a humanidade, hoje, já são admitidos até mesmo pelos militares . Para quem, mesmo assim, acha que foi “suave” a repressão, um estudo do governo federal analisou relatórios e propõe triplicar a lista oficial de mortos e desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar. Ou seja: de 357 mortos e desaparecidos com relação direta ou indireta com a repressão da ditadura (segundo a lista da Secretaria de Direitos Humanos), o número pode saltar para 957 mortos.

2. “Tínhamos educação de qualidade”
Naquele época, o “livre-pensar” não era, digamos, uma prioridade para o regime. Havia um intenso controle sobre informações e ideologia – o que engessava o currículo – e as disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas por Educação, Moral e Cívica e por OSPB (Organização Social e Política Brasileira, uma matéria obrigatória em todas as escolas do país, destinada à transmissão da ideologia do regime autoritário). Segundo o estudo “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização) fracassou. O Mobral era uma resposta do regime militar ao método do educador Paulo Freire – considerado subversivo -, empregado, já naquela época, com sucesso no mundo todo. Mas os problemas não paravam por aí: com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram. E faturaram também. Esse “sucateamento” também chegou às universidades: foram afastadas dos centros urbanos – para evitar “baderna” – e sofreram a imposição do criticado sistema de crédito.

3. “A saúde não era o caos de hoje”
Se hoje todo mundo reclama da “qualidade do atendimento” e das “filas intermináveis” nos hospitais e postos de saúde, imagina naquela época. Para começar, o acesso à saúde era restrito: o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento público, mas era exclusivo aos trabalhadores formais. Ou seja, só era atendido quem tinha carteira de trabalho assinada. O resultado era esperado: cresceu a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas. Essas instituições abrangeram, em 1976, a quase 98% das internações. Planos de saúde ainda não existiam e o saneamento básico chegava a poucas localidades, o que aumentava o número de doenças. Além disso, o modelo hospitalar adotado relegava a assistência primária a segundo plano, ou seja, para os militares era melhor remediar que prevenir. O tão criticado SUS (Sistema Único de Saúde) – que hoje atende cerca de 80% da população – só foi criado em 1988, três anos após o fim da ditadura.

4. “Não havia corrupção no Brasil”

Uma características básica da democracia é a participação da sociedade civil organizada no controle dos gastos, denunciando a corrupção. E em um regime de exceção, bem, as coisas não funcionavam exatamente assim. Não havia conselhos fiscalizatórios e, depois da dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram sequer analisadas, quanto mais discutidas. Além disso, os militares investiam bilhões e bilhões em obras faraônicas – como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço -, sem nenhum controle de gastos. Esse clima tenso de “gastos estratosféricos” até levou o ministro Armando Falcão, pilar da ditadura, a declarar que “o problema mais grave no Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar”.Muito pouco se falava em corrupção. Mas não significa que ela não estava lá. Experimente jogar no Google termos como “Caso Halles”, “Caso BUC” e “Caso UEB/Rio-Sul” e você nunca mais vai usar esse argumento.

5. “Os militares evitaram a ditadura comunista”
É fato: o governo do presidente João Goulart era constitucional. Seguia todo à risca o protocolo. Ele chegou ao poder depois da renúncia de Jânio Quadros, de quem era vice. Em 1955, foi eleito vice-presidente com 500 mil votos a mais que Juscelino Kubitschek. Porém, quando Jango assumiu a Presidência, a imprensa bateu na tecla de que em seu governo havia um “caos administrativo” e que havia a necessidade de reestabelecer a “ordem e o progresso” através de uma intervenção militar. Foi criada, então, a ideia da iminência de um “golpe comunista” e de um alinhamento à URSS, o que virou motivo para a intervenção. Goulart não era o que se poderia chamar de marxista. Antes de ser presidente, ele fora ministro de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek e estava mais próximo do populismo. Em entrevista inédita recentemente divulgada, o presidente deposto afirmou que havia uma confusão entre “justiça social” – o que ele pretendia com as Reformas de Base – e comunismo, ideia que ele não compartilhava: “justiça social não é algo marxista ou comunista”, disse. Há também outro fator: pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe, em 31 de março, mostram que Jango tinha um amplo apoio popular, chegando a 70% de aprovação na cidade de São Paulo. Esta pesquisa, claro, não foi revelada à época, mas foi catalogada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

6. “O Brasil cresceu economicamente”
Um grande legado econômico do regime militar é indiscutível: o aumento da dívida externa, que permaneceu impagável por toda a primeira década de redemocratização. Em 1984, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Sim, mais da metade do que arrecadava. Se transpuséssemos essa dívida para os dias de hoje, seria como se o Brasil devesse US$ 1,2 trilhão, ou seja, o quádruplo da atual dívida externa. Além disso, o suposto “milagre econômico brasileiro” – quando o Brasil cresceu acima de 10% ao ano – mostrou que o bolo crescia sim, mas poucos podiam comê-lo. A distribuição de renda se polarizou: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois. Quer dizer, quem era rico ficou ainda mais rico e o pobre, mais pobre que antes. Outra coisa que piorava ainda mais a situação do população de baixa renda: em pleno milagre, o salário mínimo representava a metade do poder de compra que tinha em 1960.

7. “As igrejas apoiaram”
Sim, as igrejas tiveram um papel destacado no apoio ao golpe. Porém, em todo o Brasil, houve religiosos que criaram grupos de resistência, deixaram de aceitar imposições do governo, denunciaram torturas, foram torturados e mortos e até ajudaram a retirar pessoas perseguidas pela ditadura no país. Inclusive, ainda durante o regime militar, uma das maiores ações em defesa dos direitos humanos – o relatório “Brasil: Nunca Mais” – originou-se de uma ação ecumênica, desenvolvida por dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright. Realizado clandestinamente entre 1979 e 1985, gerou uma importante documentação sobre nossa história, revelando a extensão da repressão política no Brasil.

8. “Durante a ditadura, só morreram vagabundos e terroristas”
Esse é um argumento bem fácil de encontrar em caixas de comentário da internet. Dizem que quem não pegou em armas nunca foi preso, torturado ou morto pelas mãos de militares. Provavelmente, quem acredita nisso não coloca na conta o genocídio de povos indígenas na Amazônia durante a construção da Transamazônica. Segundo a estimativa apresentada na Comissão da Verdade, 8 mil índios morreram entre 1971 e 1985. Isso sem contar as outras vítimas da ditadura que não faziam parte da guerrilha. É o caso de Rubens Paiva. O ex-deputado, cassado depois do golpe, em 1964, foi torturado porque os militares suspeitavam que, através dele, conseguiriam chegar a Carlos Lamarca, um dos líderes da oposição armada. Não deu certo: Rubens Paiva morreu durante a tortura. A verdade sobre a morte do político só veio à tona em 2014. Antes disso, uma outra versão (bem mal contada) dizia que ele tinha “desaparecido”. Para entrar na mira dos militares durante a ditadura, lutar pela democracia – mesmo sem armas na mão – já era motivo o suficiente.

9. “Todos os militares apoiaram o regime”
Ser militar na época não era sinônimo de golpista, claro. Havia uma corrente de militares que apoiava Goulart e via nas reformas de base um importante caminho para o Brasil. Houve focos de resistência em São Paulo, no Rio de Janeiro e também no Rio Grande do Sul, apesar do contragolpe nunca ter acontecido. Durante o regime, muitos militares sofreram e estima-se que cerca 7,5 mil membros das Forças Armadas e bombeiros foram perseguidos, presos, torturados ou expulsos das corporações por se oporem à ditadura. No auge do endurecimento do regime, os serviços secretos buscavam informações sobre focos da resistência militar, assim como a influência do comunismo nos sindicatos, no Exército, na Força Pública e na Guarda Civil.

10. “Naquele tempo, havia civismo e não tinha tanta baderna como greves e passeatas”
O então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva
discursando em greve no fim dos anos 70.


Quando os militares assumiram o poder, uma das primeiras medidas que tomaram foi assumir a possibilidade de suspensão dos diretos políticos de qualquer cidadão. Com isso, as representações sindicais foram duramente afetadas e passaram a ser controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho, o que gerou o enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão. Afinal, para que as leis trabalhistas vigorem, é necessário que se judicializem e que os patrões as respeitem. Com essa supressão, os sindicatos passaram a ser compostos mais por agentes do governo que trabalhadores. E os direitos dos trabalhadores foram reduzidos à vontade dos patrões. Passeatas eram duramente repreendidas. Quando o estudante Edson Luísa de Lima Souto foi morto em uma ação policial no Rio de Janeiro, multidões foram às ruas no que ficou conhecido com o a Passeata dos Cem Mil. Nos meses seguintes, a repressão ao movimento estudantil só aumentou. As ações militares contra manifestações do tipo culminaram no AI-5. O que aconteceu daí para a frente você já sabe.