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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Laika: o primeiro ser vivo a ir para o espaço

Retomando o assunto sobre a corrida espacial durante a Guerra Fria, entre EUA e URSS, relembremos a história do primeiro ser vivo a ir para o espaço, demonstrando o pioneirismo russo naquela corrida que culminaria com a viagem à lua do homem. Porém, o primeiro ser vivo não era um humano, e sim o melhor amigo - no caso, amiga - dele.





A PRIMEIRA COSMONAUTA, por Frédérick Gersal

Ela possuía uma expressão doce, era vibrante e enterneceu todo o planeta. Laika se tornaria uma verdadeira heroína da grande história da conquista do espaço e assim é celebrada ainda hoje na Rússia. Sem ela, as mulheres e os homens talvez tivessem permanecido muito mais tempo na Terra. Mas ela também foi vítima da disputa entre dois governos pela hegemonia no cenário geopolítico.
Laika


O AMIGO DO HOMEM O cão foi um dos primeiros animais a se deixar domesticar. Arqueólogos descobriram ossadas de cães perto daquelas que certamente eram as de seus senhores, datadas do Período Paleolítico. Incontestavelmente, faz muito tempo que o homem e o cão se uniram por uma causa comum: sobreviver, resistindo juntos, muitas vezes, a espécies mais fortes do que ambos sozinhos.

No decorrer dos séculos, os cães foram utilizados para guardar domicílios, puxar objetos, defender seus donos de ataques, ajudar na caça... Com o avanço da ciência, o cão teve novas serventias, a ponto de oferecer a primeira cosmonauta da história: a pequena Laika.

GUERRA FRIA Lembremo-nos de que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial e no decorrer dos dez anos seguintes, as atividades espaciais foram estimuladas pelos imperativos militares das superpotências que emergiram do conflito. Os soviéticos criaram, já em 1948, no seio de seu exército, uma seção especial encarregada de estudar as possíveis utilizações dos foguetes.

Pouco depois, americanos e soviéticos conceberam o projeto, cada um por si, de lançar um satélite artificial que poderia orbitar em torno da Terra. Ambos os países previram que poderiam alcançar o objetivo no ano geofísico internacional de 1957-1958.

Foram os russos, no entanto, que saíram na frente. Em agosto de 1957, a URSS lançou um foguete intercontinental de 8 mil quilômetros de alcance. Nikita Kruschev, primeiro-secretário do Partido Comunista da União Soviética, entusiasmou-se e declarou então que “a era dos aviões havia chegado ao fim e dado lugar à dos foguetes!”. Os ocidentais pensaram que se tratava apenas de um blefe. Mas o governo soviético percebeu que, em termos de propaganda, a vitória tinha sido retumbante. Os engenheiros foram instados a acelerar todos os projetos. Em poucos meses, as vitórias soviéticas na corrida espacial se multiplicaram.

Em 4 de outubro de 1957, ocorreu o lançamento do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial a gravitar na órbita da Terra. O artefato se apresentou sob a forma futurista de uma esfera de alumínio de 58 centímetros de diâmetro dotada de quatro antenas. Tendo uma massa de 83,6 quilos, ele possuía dois emissores de rádio que transmitiram para o mundo inteiro, durante 21 dias, os célebres bipes que anunciaram o nascimento da era espacial.

Os oficiais soviéticos, cada vez mais animados, acharam que seria uma excelente ideia mais um lançamento espacial para comemorar o 40º aniversário da Revolução Russa, a ser completado em 7 de novembro (pelo calendário gregoriano). Foi decidido que seria lançado ao espaço o primeiro ser vivo. Enquanto os engenheiros desenvolviam o que seria o Sputnik 2, três cães (Albina, Mushka e Laika) eram treinados e testados para a missão. Em 3 de novembro de 1957, a URSS lançou de Baikonur um satélite de 500 quilos que transportou pela primeira vez um morador da Terra para o espaço. Era uma passageira – e não sem importância, pois se tratava da cadelinha Laika. O anúncio dessa expedição oficial foi feito nos seguintes termos: “O satélite que acabou de ser lançado leva um contêiner hermético dentro do qual se encontram um cão com um aparelho de ar condicionado, reservas de alimento e instrumentos para o estudo do comportamento animal nos espaços interplanetários”.

UMA RAÇA COM HISTÓRIA Essa cadelinha heroica era provavelmente um cruzamento de husky com fox-terrier. Essa segunda raça já fora celebrada pelo romano Plínio, o Velho, que fala dela em sua História natural, do primeiro século da era cristã. Marco Polo foi outro que se referiu aos terriers como cães de caça do Grande Khan. Mas a popularidade desses pequenos animais se deve, sobretudo, a Milou, o fiel companheiro de Tintin.

SEM RETORNO Laika foi não somente pioneira, mas, é forçoso também dizer, mártir, pois não voltou viva de sua viagem ao reino dos céus. Não houve tempo para que os engenheiros russos desenhassem qualquer plano de recuperação para Laika. Dessa vez, um gol contra em termos de relações públicas dos soviéticos, já que a cadela havia conquistado os corações e todos esperaram notícias dela por dias.

Tendo esgotado suas reservas de oxigênio, ela morreu ao fim de cinco a sete horas, na versão mais aceita. Mas há outras teses que preconizam que ela teria sobrevivido por quatro dias, até que uma pane elétrica elevou exponencialmente a temperatura no interior de sua cabine, matando-a de calor.

O certo é que Laika não teve mais do que seis dias de vida espacial, porque no sexto dia da missão as baterias do Sputnik se esgotaram. O satélite vagou em órbita da Terra por meses, desligado, até reentrar na atmosfera em 14 de abril de 1958 e se incendiar, junto com os restos mortais de Laika.
Monumento em homengagem a Laika,
inaugurada em 2008, na capital russa,
Moscou


Além de pioneira no espaço, provando que era possível um ser vivo sobreviver fora da atmosfera, a cadelinha, com seu triste fim, alimentou o então quase inexistente debate sobre o uso de animais em experiências científicas. Ou seja, sua morte pode ter salvado a vida de muitos outros de sua espécie.

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